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ENTREVISTA A ENSAIOS

em português

A cantora Joyce é um nome mais do que respeitado no cenário musical brasileiro. Em atividade desde o final de década de 60, ela se consagrou em 80 com uma interessante mescla entre samba e jazz. Sua voz e seu estilo peculiar de canto foram provavelmente os principais responsáveis pela boa receptividade que encontrou à sua música. Desde então, ela vem apresentando trabalhos que colocam a música brasileira nas nuvens. Inclusive pela participação de músicos do mais alto calibre como Rodolfo Stroetter do grupo Pau Brasil que pertence à gravadora do mesmo nome (www.paubrasil.com.br). Aliás, foi por esta gravadora que Joyce lançou em 98, o disco Astronauta, uma sincera homenagem ao esplendor de Elis Regina. Nesta conversa com Joyce, falamos um pouco sobre o início da sua carreira, ainda no começo da década de 70, quando em companhia de Toninho Horta, Nelson Ângelo, Novelli, Naná Vasconcelos e, posteriormente do baterista Nenê ela participou do grupo A Tribo. Quem quiser saber mais a respeito de Joyce pode dar um conferida no site www.joyce-brasil.com, (da onde foi retirada a maior parte das fotos vistas aqui). Neste site há informações sobre sua carreira, discografia, mp3, depoimentos e trechos do livro "Fotografei você na minha rolleyflex", onde Joyce conta alguns trechos da sua vida como cantora. Ela também escreve uma coluna no Jornal do Brasil.

 

Ensaios - Como o grupo A Tribo foi formado e quanto tempo durou?

 

Joyce - a Tribo nasceu em 1970. Eu Nelsinho, Novelli e Naná Tínhamos chegado do México, onde fazíamos parte do conjunto "Sagrada Família", liderado por Luis Eça (Novelli também vinha do México mas pertencia a outro grupo). Eu e Nelsinho nos casamos junto com o Novelli e a Luci, mulher dele, no mesmo dia e os quatro alugamos um apartamento enorme no Jardim Botânico. Toninho Horta ainda estava em Minas e queria vir morar no Rio. Nós o convidamos para vir morar e trabalhar com a gente. Mais ou menos na mesma época o Naná teve um convite do Gato Barbieri para trabalhar com ele na Europa e foi embora. Para substituí-lo, chamamos o Nenê, baterista gaúcho radicado em São Paulo, que veio também morar com a gente. De modo que A Tribo era antes de tudo uma comunidade. Durou até fins de 71, quando a necessidade de grana se fez maior. Todas as mulheres da comunidade, inclusive eu, engravidaram. Nelsinho, Novelli e Toninho foram trabalhar com a Elis que era um "gig" muito bem paga na época. Nenê voltou pra São Paulo (mas trabalharia anos depois com Elis no show Falso Brilhante)

 

Ensaios - Você possui um disco de 72 com Nelson Ângelo. Era um desdobramento do trabalho realizado com A Tribo?

 

Joyce - Este foi um projeto em separado posterior ao grupo A Tribo. Na verdade era pra ser um disco meu na EMI (então se chamava ODEON), que eu contrapus ao Milton Miranda, na época diretor artístico dessa gravadora. Minha proposta foi que eu dividisse o disco com o Nelson, com quem na época eu estava casada e que era um músico que eu admirava (ainda admiro muito). Propus também a ele que gravasse Toninho Horta, Novelli (ex-membros D'A Tribo), Beto Guedes e Danilo Caymmy, que faziam discos na mesma concepção e ele realmente gravou um disco dividido entre os quatro. Este meu cd com o Nelson, encontrei na Tower Records do Japão, em 98 mas aqui no Brasil acho impossível de achar.

 

Ensaios - Entre as músicas que A Tribo registrou durante sua carreira havia uma dose de psicodelismo ou o acento era mais regionalista?

 

Joyce - havia sim um certo psicodelismo nessa músicas que fazíamos, aliás, que o Nelsinho fazia pois estas composições eram dele. Não se deve esquecer que estávamos em plenos anos 70, com tudo que se tinha direito. Mas vale a pena notar que enquanto os outros grupos da época tinham um acento predominantemente rock, o nosso grupo era fissurado em João Gilberto e tinha influência totalmente jazzística. Músicos de jazz que chegavam no Rio, como Paul Winter, iam sempre parar lá em casa. O Milton Nascimento era nosso vizinho e passava as tardes lá, de modo que o chamado "Clube da Esquina" (o disco de 72) na verdade, começou a ser gerado na sede da Tribo.

 

Ensaios - Até que ponto a música que você fazia naquela época te influencia hoje?

 

Joyce - Olha, não influencia muito não. Havia um certo consenso de quem compunha eram os "meninos". Eu tocava percussão (direitinho) e uma flauta doce (pavorosa), e cantava (isso era legal). Mas somente em 75, 76 é que fui tratar da minha vida como compositora, coisa que eu fazia antes, e que tinha abandonado por uns tempos. As minhas músicas que ficaram mais conhecidas são de 77 em diante. E eu nem tocava violão no grupo (A Tribo).

 

Ensaios - Um conjunto que tem você, Toninho Horta, Nelson Angelo, Naná Vasconcelos e Novelli como integrantes é o que na gíria de rock se denominaria "Power Group".

 

Joyce - Na ocasião a gente não se dava conta disso. Eu larguei um contrato que tinha com a Phillips (depois Polygram) para fazer parte deste grupo. O Nelsinho Motta que era meu produtor, não entendia e dizia "eles podem ser a sua banda e você continuar fazendo os discos em seu nome". O André Midani, diretor da gravadora, foi lá em casa tentar me convencer mas eu fiz pé firme. Hoje esse grupo seria "power". Na época era só pobre. O Toninho Horta, por exemplo, era um garoto que veio de Belo Horizonte e que ainda nem tocava guitarra direito embora já fosse um gênio do violão. A música dele "Manuel, o Audaz" fazia parte do nosso repertório, embora nunca a gente tenha gravado.

 

Ensaios - Como você vê a cena de rock psicodélico e progressivo brasileiro na década de 70? O que você destacaria naquele período?

 

Joyce - A gente não era um grupo muito típico da época, estávamos mais em outra. A gente usava aquelas roupas, todo mundo mais ou menos experimentava drogas, os meninos tinham o cabelo comprido. Mas os acordes eram cheios de "sacanagem" e, embora a gente ouvisse bastante rock progressivo que era algo muito interessante, nossa música de eleição era o jazz, e nossa raiz era João e Tom. Nas nossas gravações quem tocou percussão foi o Helcio Milito, baterista do Tamba Trio, que hoje em dia faz um sucesso pop em Londres. Como você vê, essas coisas são muito relativas...

 

Ensaios - Há algum fato curioso ou engraçado dessa época que você acharia interessante mencionar?

 

Joyce - Lembro que participamos do Festival Internacional da Canção de 1970 com uma música do nelsinho chamada "Onocêonékotô". A música foi para a final, por incrível que pareça e a gente ficou sabendo que havia cartas marcadas. Fomos avisados até da colocação que teríamos entre as finalistas. Resolvemos virar a mesa e no dia da final, simplesmente tocamos outra música, com um refrão em espanhol, solo de bateria do Nenê de uns cinco minutos, mais um solo de guitarra do Toninho de mais cinco minutos. Quando acabou a direção do festival estava desesperada, querendo nos matar e a TV Globo jurava que nenhum de nós nunca mais apareceria lá... claro que fomos desclassificados. Era uma atitude típica daquela época. Só que ninguém entendeu porque tínhamos feito aquilo e nem a gente achou que precisasse explicar.

 

Ensaios - Uma das músicas d'A Tribo foi incluída em uma coletânea de música psicodélica da América Latina da década de 70. Somando-se isso ao fato de que David Byrne resgatou Tom Zé e está divulgando Os Mutantes, pode-se concluir que está havendo um renascimento do espírito musical brasileiro no exterior?

 

Joyce - Acho que agora, fim de século, todos estes movimentos estarão sendo revistos e reavaliados. Isto é muito bom. A música brasileira é riquíssima em todas as suas formas e tem mais é que ser revista mesmo.

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